Eternizar
Nestes
dias fui levado às interrogações a respeito do tempo. Quanto tempo
levaria uma folha para cair de uma árvore? Quanto tempo levam as
nuvens para conjugar as belas formas que apreciamos? Quanto tempo se
leva para o perdão? E o coração, para as feridas curar?
Inquietações que se fazem constantes. Cada momento é próprio,
único. Não retorna! Que graça teria, afinal, realizar
repetitivamente as mesmas coisas que nos fazem bem? Nos foi ofertado
apenas uma oportunidade para a felicidade, este momento chama-se
hoje. Não é possível tentar amar a felicidade passada, pois nos
fecharíamos cada vez mais; como também uma improvável e incerta
felicidade futura. O hoje da nossa história é requerido para a
felicidade. Imagine que, caso o momento passado propiciador de
felicidade fosse repetido, possivelmente não viveríamos, nem
sentiríamos na mesma constância, tornando um momento tão belo,
rebaixando-o à efemeridade.
Qual
realmente seria o tempo para o sujeito curar-se dos seus próprios
medos? Alguns contam dias, semanas, para outros nem a eternidade é o
bastante, levando o fardo de ter uma vida limitada, sem poder amar a
si mesmo. Goethe na obra “Os sofrimentos do Jovem Werther”
afirma: “A alegria não está nos outros, mas em nós mesmos!”. O
enfoque é no ser humano que pensa e sente, o ponto crucial é,
sobretudo, no 'EU'; partindo deste a cura do seu próprio coração,
afirmando a vida e a existência...
A
depender do momento, a dor retorna e dilacera o coração, relembra o
que nunca foi esquecido, fazendo ver que tudo foi em vão. O que nos
torna humanos é a capacidade de lidar com esta dor. Podemos agir de
duas formas: negando a nossa humanidade e agindo feito bovinos,
ruminando as mazelas ao entardecer; ou como um autêntico ser que
ama, entregando-se à edificação de uma pessoa melhor, sendo capaz
de abrir seu coração para o próximo. Compreendendo que é
necessário despedaçar seu coração, para que ele possa acolher uma
vida nova sem medos! Cada momento na vida é o bastante para a
esperança brilhar, no coração de quem ama fazer suspirar os mais
belos sentimentos de paz, não importa o tempo que se possa levar.
As
lembranças do eterno se fazem nos instantes mais simples e
significativos, podem ocorrer durante uma apreciação das nuvens, em
que dançam a valsa em perfeita harmonia com o ar, gerando contornos
de esculturas, que somente a perfeição da natureza é capaz de
trazer. Acaso não seria isto perfeito? Ver a mais correta harmonia,
em que um se entrega ao outro, sem anseios do que possam falar. O que
mais me toca é saber que o belo, tão procurado, sempre esteve lá,
sempre esteve em mim, está na humanidade, mas não queremos senti-lo
pelo medo de nos entregarmos à mesma emoção emanada na infância,
de um abraço carinhoso de quem se ama.
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