Em nosso quotidiano somos levados a nos interrogarmos a respeito
de um objetivo, de uma razão para a nossa existência. Quem nunca teve uma
circunstância na vida, no seu caminhar, que não se interrogou sobre qual seria
a sua missão? S. Francisco diante de suas inquietações perguntava: “Senhor, o
que queres que eu faça?”. Deus respondia ao seu coração: “Vai, reconstrói a
minha Igreja!”.
A Igreja não é somente um templo material, composto de
tijolos e madeiras, mas o próprio ser humano. Nós somos a Igreja, o corpo de
Cristo. Desta forma, faz-se necessário que o ser humano seja capaz de se
reconstruir, deixar morrer o que há de velho, seus egoísmos e limitações; deixar
falecer o pecado da indiferença e do orgulho, que nos afastam do amor.
A vida é
uma eterna recriação, que o indivíduo morre, devendo ser capaz de
ressuscitar para uma vida nova. O amor é uma extensão da vida, da mesma forma
que não escolhemos viver, também não escolhemos amar. Vivemos, mas as nossas
escolhas que direcionam o “modo” como iremos viver. A nossa vida não nos
pertence, somos responsáveis não somente por nós mesmos, mas por quem realmente amamos, família, amigos. O amor, consequentemente, também não é uma escolha, não
escolhemos quem amar, simplesmente amamos. A flor necessita de terra fértil e água para que possa desabrochar. O amor também assim acontece, pois ele sempre está em
nossos corações, requer que seja cuidado. Para que esse amor cresça é necessário que permitamos o
seu nascimento, ou seja, abandonar os velhos grilhões. Somente assim encontramos a liberdade,
onde não escolhemos amar, amamos sem interesse, tornando-nos seres novos.
Kafka em uma de suas cartas afirma: "Existem dois
principais pecados humanos a partir dos quais derivam todos os outros:
impaciência e indiferença. Por causa da impaciência fomos expulsos do Paraíso,
por causa da indiferença não podemos voltar". A impaciência do ser humano,
em não saber esperar, o afasta de Deus. O “saber esperar” pode ser compreendido
como “reconhecer”, o ver Deus na sua forma mais simples de manifestação, seja
num gesto de carinho ou gesto de amor. Já a indiferença é não ser capaz de
enxergar a sua própria realidade, somos indiferentes com nós mesmos, nos
tornamos descartáveis, em que usamos as pessoas e nos deixamos usas e, em seguida,
somos jogados ao lixo.
Fazendo o “homem antigo” que há em nós morrer, podemos viver
e fazer nascer um sujeito novo, encontrando nos caminhos da vida o amor. Sabendo ver Deus, o amor, em nossas vidas. Somente assim seremos realmente livres, livres para amar.